Há 10 anos, no dia 08 de agosto de 2001, o Brasil perdia uma de suas grandes poetisas da terra e eu perdia uma das pessoas mais importantes de minha vida: Dora Gomes Mischiatti (Vó Dora). Deixo nesta data meu tributo silencioso e pego carona nas páginas da Net para expressar um pouco da falta que a mesma faz não somente em minha vida, mas de todos que a conheceram.
Crônica para Vó Dora
por Vânia Moreira Diniz
Vó Dora, vida, arte e exemplo
Dora Gomes Mischiatti nasceu numa fazenda do interior paulista da cidade de Amparo. E veio ao mundo já com a poesia na alma. Muito pequena sentia e transmitia os acordes de uma poesia ao ver desde um simples objeto até o céu azul e maravilhoso.
Sua sensibilidade, doação às outras pessoas e forma de encarar a vida sugeria logo a maravilhosa poeta que seria um dia. E desde criança ela expressava e sentia tudo isso na bondade e sensibilidade que nunca sairiam do seu coração.
Depois lecionou como professora substituta em uma escola da fazenda e mostrava outro pendor artístico fazendo lindos vestidos de noiva, que envolviam também sua arte. Na verdade era uma artista e nascera para uma missão de muito amor.
Mais tarde casou-se com Joaquim Mischiatti e teve dois filhos , Laudo e Helena continuando a sua inspiração poética que não concentrava num só livro mas espalhava à sua volta.
E verdadeiramente o ensinamento que ela passava às outras gerações era a igualdade e fraternidade que devia existir entre as pessoas.E transmitiu isso a seus netos, Marc e Eliane Fortuna Grassi com a força do seu exemplo e postura de vida.
Por isso sinto-me emocionada e orgulhosa de falar sobre essa mulher que construiu a partir de si mesma, sentimentos de amor universal e carinho a um mundo que ela recebia de braços abertos e ternura constante.
Seu canto de poesia era a forma, o elo que tinha para compreender e demonstrar essa paixão pela vida e pelos seus semelhantes.
Quando menina acompanhava a mãe quando ela ia para colheita e fez mais tarde um belo poema em que expressa todo seu amor filial e consideração pela vida e seus elementos:
Colheita
Dora Mischiatti
quando era pequenina
ajudava mamãe na colheita
ela ia contente e satisfeita
carregando-me no balaio
cresci e virei menina
colhi flores e descobri
que mamãe era Flor de Maio
Depois compôs também o “meu vestido de Menina”, reminiscência de sua infância laboriosa e encantadora:
Meu vestido de menina
Dora Mischiatti
meu vestido de menina
com renda e belo bordado
feito de costura fina
sempre ficava guardado
mamãe me dizia
que era vestido de festa
não podia usar qualquer dia
só no local e hora certa
hoje cresci e vou ao baile com um belo rapaz
vestido de menina
já não me serve mais
Aos 60 anos ficou cega e sua incrível capacidade, potencialidades e inspiração ainda mais se aperfeiçoou. No escuro em que se tornou fisicamente sua vida, abriu-se fascinante perspectiva em sua arte e parecia que o que não conseguia ver , sentia, amava e transmitia em dobro. Foi o período em que mais produziu e em que sua alma mais profundamente se uniu à poesia de uma maneira profunda e instintiva. Sua profunda fé pelo universo, cercada de netos e bisnetos, encantando com a poesia que amava e que nos últimos trinta anos, já deficiente visual ainda mais se aprofundou foi exemplo de vida, amor, solidariedade, e intrínseca arte na verdadeira e mais consciente acepção da palavra.
Morreuno dia o8 de agosto de 2001 aos 94 anos de idade, mas sua vida sempre será lembrada e seu memorial constituirá para todos que o visitarem um deslumbramento pela vida cuja missão foi linda e integralmente cumprida. Sua poesia, composta de amor, ternura, verdade, inspiração e extraordinário talento está ali entre os descendentes da família tal como Lord Marcello Raphael Fortuna, a neta Eliane Fortuna e a bisneta Marcia Lizandra Grassi com obras já publicadas.